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quarta-feira, 8 de maio de 2013

As responsabilidades da esquerda

Emir Sader



A crise atual do capitalismo, além de confirmar, de maneira inequívoca, o caráter antissocial desse tipo de sociedade, coloca desafios que a esquerda não se tem mostrado à altura de enfrentar. Quando, na Europa – o berço da esquerda, como a conhecemos até agora –, a crise não tem levado ao fortalecimento da esquerda – revolucionária, radical ou até mesmo reformista –, mas o da extrema-direita, temos a dimensão da incapacidade da esquerda de se erigir como alternativa de massas ao capitalismo em crise.

Em alguns países, a esquerda predominante – socialdemocrata, que já havia aderido a modalidades do neoliberalismo – aplica políticas de austeridade e é derrotada – como são os casos da Espanha e de Portugal –, correntes radicais da esquerda não avançam, enfim, todas são derrotadas. Mesmo quando chegam a avançar – como agora na Espanha ou na Grécia –, não têm força suficiente para se erigir como alternativa, ou porque sozinhas não têm maioria ou porque não conseguem organizar um bloco de forças que possa se tornar hegemônico – também pela ojeriza a alianças políticas.

Mesmo na América Latina, a esquerda ter sido de novo derrotada no México, um país despedaçado entre décadas de governos neoliberais, violência do narcotráfico, corrupção, é uma derrota de proporções. Mas nem por isso se vê um balanço autocrítico da esquerda. Quando o país começa a enfrentar, tristemente, outros seis anos de governos de direita, em que o retorno do PRI sucede ao fracasso de dois mandatos do PAN, ao invés de alternativas de esquerda, o tom das manifestações é ainda o da denúncia dos governos da direita, sem a correspondente análise de por que a esquerda não conseguiu, nesses anos todos, se erigir como força hegemônica – mais além das reiteradas e justas denúncias das fraudes eleitorais.

Da mesma forma, o alerta dos resultados eleitorais apertados na Venezuela tem que ser respondido com a denúncia dos planos da direita – não se pode esperar outra coisa de uma direita que já tentou um golpe e é apoiada abertamente por Washington. Mas também tem de ser acompanhada do balanço da perda de apoio do governo, dos erros que levaram a isso e das formas de retificar e avançar.

Às vezes a esquerda – especialmente seus setores mais radicais, partidários e intelectuais – não tomam as derrotas da esquerda como suas derrotas. A culpa é do “reformismo”, da “traição” de outras forças, das manobras da direita etc., etc. Mas por que as radicais não crescem, não aparecem como alternativas? 

Em parte, porque se limitam às criticas, às denúncias, em parte porque muitas vezes recaem no receituário liberal, de concentrar suas denúncias nos temas da corrupção – atitude típica no México e no Brasil –, ao invés de centrar as denúncias e a construção de alternativas na luta contra o neoliberalismo e pela sua superação. 

Quem analisa o cenário mundial, com a prolongada e profunda crise do capitalismo – especialmente no seu centro, mas em tantos outros países, de que o México é um exemplo latino-americano –, poderia esperar um fortalecimento da esquerda – radical ou moderada. É uma grave derrota da esquerda perder uma oportunidade como essa crise mundial do capitalismo para aparecer como alternativa – antineoliberal ou anticapitalista.

Nesse cenário se deve valorizar ainda mais os passos dados por governos latino-americanos para superar os neoliberais, com modalidades mais moderadas ou mais radicais, mas suficientes para que esses países não tenham entrado em recessão e tenham continuado a avançar no combate à desigualdade, à miséria e à pobreza, mesmo em meio à crise internacional e seus reflexos em cada país.

Retirado do Site: cartamaior.com.br 

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