No dia 13 de maio
completam-se 125 anos da assinatura da chamada “Lei Áurea” que aboliu a
escravidão no Brasil. É uma importante data para todo o povo brasileiro e por
isso de fundamental importância a compreensão deste episódio. A herança deste
período marca a formação econômica e social de nosso país com reflexos até
hoje.
A escravidão moderna
nas Américas nasceu da necessidade de mão de obra intensa para a exploração
agrícola intensiva das Américas,, era o desenvolvimento das navegações e a
procura de novos mercados da nascente burguesia que culminaram na revolução
industrial, ou seja, o período de acumulação inicial do capital. A burguesia
precisava explicar “cientificamente” porque mesmo após a Revolução Francesa com
as bandeiras de “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, seres humanos eram
comercializados e tinham sua liberdade roubada. Desde o início, o racismo é
fundamentado na afirmação que a espécie humana é dividida em famílias raciais.
O racismo é uma ideologia fundamentada em pressupostos subjetivos e, hoje
sabemos, completamente anticientíficos, para justificar uma exploração e
opressão injustificáveis, e seu nascedouro é o sistema capitalista. O racismo
não existia antes do capitalismo.
Mas não foi somente o
desenvolvimento e as transformações no velho mundo que levaram à abolição no
Brasil. Já vinha de longe a luta contra a pilhagem, exploração e opressão.
Vinham de longe as lutas dos quilombos, em especial a luta de Zumbi em
Palmares, revoltas dos jangadeiros do Ceará, pela Cabanagem, Balaiada,
Sabinada, Revolta dos Malês, as fugas das senzalas como de Cosme Bento, os
tipógrafos abolicionistas do Rio de Janeiro e São Paulo, a significativa
contribuição dos Caifazes e dos ferroviários da antiga Santos-Jundiaí em São
Paulo e as leis contra a escravidão, Lei Sexagenária, Lei do Ventre Livre. A
abolição foi fruto do primeiro grande movimento popular nacional.
Após a abolição, os
ex-escravos, em sua grande maioria lavradores, foram expulsos da terra e seu
destino era a sobrevivência em quilombos ou nas periferias das grandes
metrópoles, ou então o trabalho na lavoura. Foram estas condições materiais de
subsistência que consolidaram o ciclo perverso da pobreza e da miséria na qual
vive hoje a maioria da população negra do país.
Os socialistas lutam
pelos interesses imediatos e históricos do proletariado e em todas as etapas
destes combates sempre encontram o desafio de construir a unidade dos oprimidos
e explorados diante dos obstáculos criados pela própria sociedade de classes.
Obstáculos que são muitas vezes verdadeiras armadilhas, principalmente
ideológicas, que a burguesia cria com o objetivo de manter a sua dominação de
classe e evitar a revolta dos oprimidos.
Desde o início dos
anos 1970, uma nova “teoria” que se propõe a “combater” o racismo é
desenvolvida de forma ampla nos EUA. Mesmo que as primeiras cotas raciais, ou
“ações afirmativas”, tenham sido utilizadas na Índia, logo após a
independência, como as reservas de vagas nas escolas e estabelecimentos
públicos para os chamados intocáveis (dahlits), foi com Lindon Johnson e com
Nixon que surgem as políticas afirmativas (cotas, etc.) como política de
governo nos EUA. Era uma reação às mobilizações pelos direitos civis
(movimentos democráticos que exigiam igualdade de direitos) que mobilizavam
milhões no início dos anos 60.
Essa política tem como
centro a aplicação de cotas ou reservas de vagas nas universidades públicas, no
serviço público, empresas, programas de televisão, etc., para negros. Chamadas
de “ações afirmativas”, estas políticas nada têm a ver com as reivindicações
dos trabalhadores, ou com reivindicações democráticas. Elas se destinam a
perpetuar a competição inerente ao sistema capitalista e transforma o
proletário em cidadão da corporação cotista sem ligação com sua classe ou
origem social.
O imperialismo tenta
inventar uma nova forma de evitar a revolta negra, portanto proletária. A
partir de fundos de uma das grandes empresas mundiais foi constituída a
Fundação Ford com objetivo de promover a “igualdade de oportunidades” (que nada
tem a ver com a igualdade de direitos), como principal “doadora” de bolsas para
pesquisa que “fundamentem” essas políticas e reneguem a luta de classes,
transformando-a em “luta racial”.
Agora existe uma
indústria e uma forma de promover alguns negros. Revistas para negros,
universidade para negros, shampoo para negros, cosméticos especiais para
negros, remédios especiais para negros, pois existiriam até mesmo doenças “de
negros”. Até isto é uma falsificação científica, pois a “doença de negro”, a
anemia falciforme, aparece em todos os povos que sofreram a malária por vários
séculos, sejam eles africanos ou asiáticos ou qualquer outro.
Esta “indústria negra”
tem acima de tudo um objetivo político: tentar criar uma classe média negra
integrada ao sistema capitalista e que o defenda já que a imensa massa de
negros nada tem a perder neste sistema a não ser seus próprios grilhões. As
verdadeiras e duradouras conquistas dos negros do Brasil estão intimamente
ligadas às conquistas da classe trabalhadora.
A abolição da
escravidão, portanto o 13 de maio deve ser comemorado como conquista da luta do
povo brasileiro e utilizado como um “Dia de Denúncia” das atuais condições
objetivas de vida da população negra e pobre. E a escravidão a ser derrotada
agora é do sistema capitalista e seu regime de guerras, miséria, opressão e
exploração que usa o racismo para dividir e reinar.
“Racismo e capitalismo
são as duas faces da mesma moeda” (Steve Biko)
Retirado do site: marxismo.org.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário