São Paulo, 02 de julho de 1983.
Companheiros do PT,
Estamos convencidos que o PT vive, hoje, um momento muito
difícil, mas não aquela crise que os seus inimigos apregoam. Diante disso,
resolvemos nos articular para uma intervenção coletiva na vida do nosso
partido. Estamos, nesse momento, diante da importante tarefa da renovação das
direções partidárias.
Reconhecemos as dificuldades que vivem, decorrentes 1º dos
desacertos das nossas direções na aplicação da linha de construção partidária,
e 2º da ofensiva externa, daqueles que são contra, e interna, daqueles que não
acreditam que os trabalhadores são capazes de se organizarem como força
política autônoma em nosso país.
No entanto, reafirmamos, nesse momento, a vigorosa vontade de
milhares de militantes que, apoiados no reconhecimento da necessidade histórica
do PT, querem fazer do Partido um dos instrumentos dos trabalhadores
construírem uma sociedade socialista, onde não haja explorados nem
exploradores.
Defendemos, assim, o PT como partido de massas, de lutas e
democrático. Combatemos, por isso, as posições que, por um lado, tentam
diluí-lo numa frente oposicionista liberal, como o PMBD, de ação
predominantemente parlamentar-institucional; ou que se deixam seduzir por uma
proposta “socialista” sem trabalhadores, como o PDT. Também combatemos aqueles
que, incapazes de traduzir nosso papel em termos de uma efetiva política de
organização e acumulação de forças, se encerram numa proposta de partido
vanguardista tradicional, que se auto-nomeia representante da classe
trabalhadora. Por outras palavras, somos contra tanto o comportamento
individualista daqueles que acreditam não ser necessário ouvir o Partido e que,
por conta própria, avançam propostas conciliadoras, como aqueles que, também
não se submetendo a democracia interna do PT, subordinam-se a comandos paralelos
e priorizam a divulgação das suas posições políticas, em detrimento daquelas do
próprio Partido.
Ao contrário desses “iluminados”, não temos respostas para
todos os problemas do PT. Nem temos a receita infalível para superar a crise
econômica do país, para vencer a ditadura e para chegar ao poder.
O que pretendemos, ao detonar o amplo processo do debate
democrático - que subsidiaremos com alguns documentos de produção coletiva a
serem amplamente distribuídos - é contribuir para que os próprios militantes,
filiados e simpatizantes do PT possam elaborar coletivamente diretrizes claras,
capazes não apenas de orientar a nossa prática cotidiana e a da direção
renovada, mas, sobretudo, de auxiliarem o avanço e a unificação política dos
movimentos dos trabalhadores.
Entendemos assim, que cabe ao PT nesse momento:
1. Lutar contra a tentativa do regime de estabelecer uma
política de trégua e de conciliação, assim como lutar contra o estabelecimento,
por forças que se dizem de oposição, de um pacto social que visa ao isolamento
dos trabalhadores. Entendemos que tais propostas buscam, tão somente, fazer
novamente a classe trabalhadora apagar os custos da crise econômica e social;
1. Responder
a esta conciliação e a este pacto com a mobilização de todas aquelas forças
sociais exploradas que estão dispostas a lutar pelas numerosas reivindicações
abrigadas pelo lema TRABALHO, TERRA E LIBERDADE;
1. Cumprir concretamente nosso papel como partido de massa:
1. Militando intensamente nos movimentos populares,
sindicais, raciais, culturais e das chamadas minorias, contribuindo com
propostas concretas para a condução de suas lutas, respeitada a sua autonomia;
2. Aplicando nossas propostas de filiação e nucleação
intensivas, a fim de que as mais amplas camadas de explorados possam participar
da construção do PT e da aplicação da sua política; e.
3. Executando uma política ativa de formação política e
cultural dos militantes;
Comprometidos, portanto, com esses princípios, nós,
abaixo-assinados, militantes de diversas regiões, setores e instâncias do PT,
convocamos a todos os companheiros que concordam com essas posições a apoiarem
e a participarem deste projeto que se inspira nas ideias originárias do nosso
Partido.
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