Reforma política só com pressão popular
Pelo
menos nos discursos de alguns partidos políticos, lideranças e
organizações da sociedade, o tema da reforma política tem retornado ao
debate público. Aliás, é preciso dizer que nunca foi por uma questão de
retórica que a “mãe das reformas” não saiu do papel. O que sempre
faltou, na verdade, foi mobilização de amplas forças políticas e sociais
em torno de sua reivindicação.
A reforma política é chave para
um conjunto de transformações mais profundas no País. Mais do que
enfrentar a corrupção e a privatização da política, tal iniciativa deve
estar a serviço do alargamento da democracia e da participação popular,
que são indispensáveis para a realização de um conjunto de outras
reformas estruturais como a democratização das comunicações, a reforma
agrária, urbana, tributária e do sistema financeiro.
Nesse
sentido, é fundamental que a reivindicação de uma reforma política com
participação popular aponte alguns eixos prioritários como o
financiamento público exclusivo nas campanhas eleitorais; a ampliação
dos referendos, plebiscitos e consultas diretas à população; o
fortalecimento dos partidos com fidelidade partidária, o voto em lista
pré-ordenada e o fim das coligações proporcionais; a ampliação da
participação da juventude, das mulheres e da população negra nos espaços
políticos; o fim da propriedade dos meios de comunicação por políticos e
medidas de democratização e transparência do Poder Judiciário que
inibam a “judicialização da política”.
É fato que setores
expressivos da população como os jovens, as mulheres, os negros e os que
vivem em condição de pobreza, entre outros, estão subrepresentados nos
espaços de poder. Apesar disso e mesmo considerando os poderosos
interesses que resistem às mudanças, é preciso reconhecer que a reforma
política ainda não dispõe de um grande apelo junto aos setores
populares.
Exemplos de tal comportamento são percebidos na
reação de muitos à alguns pontos centrais da reforma política, como o
financiamento público de campanha e o voto em lista partidária. Enquanto
o primeiro é visto por vezes como “dar mais dinheiro do povo aos
políticos”, o voto partidário não raro é confundido com “retirar o meu
direito de votar em quem eu quiser”.
Constatar tais limites é
fundamental para que partidos políticos e movimentos sociais assumam uma
nova postura, mais pedagógica e combativa, em relação a este debate. De
nada valem floreadas resoluções de encontros e congressos sem formação
política, educação popular e trabalho de base que disputem e debatam as
idéias transformadoras de uma reforma política no cotidiano dos
trabalhadores.
Tampouco adiantará se tal constatação não for
acompanhada de luta social e gente na rua. A atualização de um programa
de reformas de base no Brasil pressupõe uma nova governabilidade, uma
governabilidade social que reconheça a importância da institucionalidade
no atual estágio da luta de classes no País, mas tenha na retomada das
mobilizações e na reorganização de uma ampla frente democrática e
popular o seu campo privilegiado de alianças e de ação política.
A profusão de propostas como a de uma nova constituinte, uma
conferência nacional ou um plebiscito sobre a reforma política guardam
em comum o reconhecimento de que uma reforma estrutural como esta não
será realizada nos marcos das atuais casas legislativas ou poderes
constituídos, ou seja, pelos que majoritariamente sempre foram
beneficiados pelo atual sistema político.
Para tanto, a reforma
política deve também contribuir para resgatar o sentido da participação
das pessoas na vida pública e comunitária. Disputando com o
individualismo, o consumismo e o conservadorismo disseminados pela
sociedade do capital, a reforma do sistema político deve estar
acompanhada da idéia de que é preciso mudar a política para mudar a vida
e construir um mundo novo.
Bruno Elias - Coordenador de Movimentos de Sociais da JPT
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