Sempre que penso na globalização meus olhos volta-se para a perspectiva de uma imposição de cultura[1], ou manutenção da cultura hegemônica, referindo-me a cultura euro-ocidental. Como essa imposição dá-se por meio de sua replicação, uma das principais ferramentas é a educação formal, dentro da educação ainda temos uma uniformização da realidade, sem um olhar diferenciado para o local, criando-se a imagem de uma igualdade infelizmente artificial.
Todos os sistemas de valores
ditados impõem a cultura hegemônica individualista como verdade a ser seguida, traduzida
no consumismo desenfreado e na visão das desigualdades sociais como algo normal;
tirando do foco fatores como a questão de perspectiva social de vida, oportunidades,
criando mitos como “pobre é pobre porque não trabalha”; “se um pobre trabalhar
duro pode um dia viver melhor”, mas questões como “por que alguns não precisam
trabalhar e já gozam das regalias”? São simplesmente ignoradas!
Esse modelo de uniformização da
realidade são pacotes fechados onde não
cabem acréscimos e devem ser seguidos a risca, como se a sociedade fosse
semelhante a uma receita de bolo, pega-se a historia escrita pelas classes
dominantes, acrescenta-se uma pitada de matemática para o individuo calcular o
quanto ele está fudid..., um pouquinho de religião para manter o conformismo,
geografia para demonstra a importância da dominação humana sobre a natureza,
separa-se tudo em porções pequenas, dadas separadamente, pois dentro da sociedade
dita globalizada, ainda pensamos a realidade em pedaços, frações de um inteiro,
quando na verdade deveríamos ver o inteiro e só depois pensar em tentar
fracioná-lo, assim não escondendo nessas frações detalhes que as ligam
intrinsecamente.
E a esse individuo, treinado pela sociedade globalizada para replicar o sistema, não lhe é dado o direito de questionar, a chance de construir, contribuir, tudo que ele sabe que aprendeu fora desse sistema, que seus pais lhe ensinaram, que as gerações de seu povo utilizavam, não passa de nada, não é conhecimento é sub-cultura deve ser abandonado, pois não é “cientifico”. Mas o que é cientifico? nada mais do que aquilo que a sociedade cientifica considera que o é; não questiono aqui a leis gerais da física, mas sim o porque dentro desse sistema tenho de me submeter a um empregador que me faz trabalhar 8 horas diárias e que obtém seu lucro na exploração de meu trabalho! Porque tenho de estudar a formação do continente europeu e não a do africano? Quem deu o direito para um homem ser o dono do mundo? Não uniu-se o homem em sociedade para a sobrevivência da espécie? Porque essa mesma sociedade quer acabar com ela mesma agora em beneficio de pequenos grupos de interesses?
Pensar a sociedade desse modo é
negar a capacidade do ser humano de ser diferente, lhe dizer que os modos de
aprender devem ser os mesmo para todos, pois somos iguais! É matar a capacidade
inventiva do homem, a globalização seria um movimento ótimo se não fosse como
uma imposição, esta se pensada como uma crioulização[2]
onde os vários elementos heterogêneos colocados teriam uma relação de inter-valorização,
onde não há uma degradação ou inferiorizarão de nem um dentro desse mix, sem um
norte ao acaso, uma “globalização natural” onde não haveria uma cultura
hegemônica para que as outras fossem apenas termos acessórios, que são
incluídos apenas quando convém, como acontece atualmente, seria a salvação para
a terra, pois ao pensar nessa uniformização, que os intelectuais chamam de
globalização, vemos o quanto esse termo é excludente, pensemos nos seus maiores
pregadores.
Os USA, pregam a globalização como se fosse algo bom e que se igualariam as culturas onde os benefícios desta seriam para todos, mas vivem metendo-se nas economias menores, protegem seus produtos com subsídios, atacam sem motivo países que não seguem o seu “modelo de democracia”, a União Européia, compactua com tudo isso e pratica exatamente as mesmas modalidades de atrocidades globalizadas, ou melhor globalizantes, são extremamente xenófobos e apregoam uma supremacia, cultural, eu digo a única supremacia deles é bélica!
Impressiona-me ainda o modo como
essa questão de uniformização globalização atinge apenas os âmbitos que os
interessam, pensemos a questão da informação, e sabido de todos, o poder de
libertação que a informação carrega, e o maléfico que sua manipulação
dissemina, logo vemos o poder que a mídia escrita e áudio visual tem de
influenciar as massas, não me refiro aqui a um simples jornaleco que faz uma
política medíocre, esse também faz seu papel manipulador porem e manipulado em
um âmbito maior, mas dos grandes formadores de opinião que definem as noticias
em âmbito global que possuem sede em vários países que são ditos respeitáveis,
estes que decidem o que o mundo pensa a respeito de determinado assunto!
Mas tenho uma esperança, a
internet, que nessa perspectiva considero o “Lutero das mídias”, quer fazer uma
mudança, reforma, mostrar que nem tudo que a TV passa é verdade que nem tudo
que nos é mostrado é o todo, mas assim como Lutero a net encontra a barreira da
acessibilidade, nem todos no tempo de Lutero sabiam ler latim, logo as bíblias
em latim não valiam nada era preciso popularizar, creio que esse é o caminho de
que devemos tomar, popularizar, imaginemos o numero de pessoas que ainda são
analfabetos digitais, a quantidade de indivíduos que são privados do saber, o
numero de livros aos quais não temos acesso, o volume de informação que uma
pequena parcela da sociedade detém, e o que eles nos dão?, os pacotes
fechados!, onde eles escolhem o que devemos ou não saber, e quanto devemos
pagar pra saber, respeito as leis de patentes mas entre “um” dono de uma
patente e a “humanidade” não preciso dizer quem deve esta em primeiro plano.
Eu digo sim para a globalização da diferença, e não a globalização da uniformização, espero estar vivo no dia que a informação abrir os olhos da humanidade espero fazer parte desse movimento, não somos iguais, um dia nos unimos para sobreviver creio que esses tempos voltaram.
[1] Falo
em cultura por entender que ela que norteia as decisões dos homens, vista aqui
como um conjunto de valores arraigados no individuo consciente e
inconscientemente apreendidos.
[2] (termo
utilizado por Glissant em Introdução a uma poética da diversidade, diferente da
mestiçagem ele coloca a impossibilidade probabilística de saber o que vai dar,
como diria Falcão de O RAPA, “...só misturando pra ver no que vai da...”)
Nenhum comentário:
Postar um comentário